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Como é ser médico estrangeiro na Alemanha?

29 de abril de 2024

Para resolver sua escassez de profissionais de saúde, país abre portas aos estrangeiros. Porém os obstáculos são altos, de exames exigentes às especificidades do sistema de saúde, passando por discriminação e idioma.

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Médico e paciente idoso em corredor de clínica
Alguns pacientes se queixam de não entender o que dizem os profissionais não alemãesFoto: Andreas Arnold/dpa/picture alliance

A Alemanha vem emergindo como destinação preferencial para médicos migrantes – uma bênção para uma nação afligida por carência aguda de profissionais da saúde. Segundo a Associação Médica Alemã (BÄK), trabalham atualmente no país aproximadamente 60 mil médicos de outras nacionalidades, cerca de 12% da força médica nacional.

A maioria provém de outros países europeus ou do Oriente Médio, sobretudo da Síria. Antes de poder trabalhar num hospital do país, os médicos que vem para a Alemanha precisam se submeter a um procedimento de aprovação rigoroso, a fim de obter a licença profissional. Ele inclui dois exames provando proficiência em geral e conhecimentos da linguagem profissional em alemão.

Para certos observadores, os médicos que desejam trabalhar no país necessitam mais apoio para atravessar esse processo tão exigente, senão o sistema de saúde sairá prejudicado. Jürgen Hoffart, diretor geral da Associação Médica da Renânia-Palatinado, enfatiza: os profissionais não devem ser tratados como mão de obra barata, mas sim integrados ao sistema do modo mais rápido e eficaz possível.

Por que a escassez de médicos na Alemanha?

Organizações internacionais de saúde alertam que a escassez de profissionais de saúde é tão grande, em todo o mundo, que em breve o acesso a um médico próximo de casa pode se tornar um luxo  em muitos países. O gargalo é especialmente agudo em nações de baixa renda, muitas das quais não alcançam a proporção recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de um médico para cada mil habitantes.

Segundo dados federais, a Alemanha dispõe de 4,53 médicos praticantes para mil habitantes, concentrando 30% dos 1,82 milhão de profissionais da Europa. No entanto, a cifra está caindo rapidamente.

Assim como os demais países-membros da União Europeia, em breve a Alemanha apresentará carência de pessoal médico: os que se aposentam não estão sendo substituídos com a rapidez necessária, sobrecarregando sobretudo os profissionais do setor público. A situação é agravada por uma população cada vez mais idosa, que exige maior atenção clínica.

Em 2023, 41% dos generalistas do país tinha mais de 60 anos, assim como 28% dos especialistas. Estima-se que nos próximos anos, entre 5 mil e 8 mil consultórios vão fechar, em especial devido a aposentadorias.

Uma vez que não há suficientes formandos para tomar o lugar dos que se aposentam, recrutar médicos do exterior é a única solução de curto prazo para o sistema de saúde seguir funcionando com o padrão atual.

Como os médicos estrangeiros estão se saindo na Alemanha?

"Na Alemanha, todos os profissionais médicos, inclusive os não nativos, recebem confiança e apreciação", afirma Fabri Beqa, natural do Kosovo, que trabalha no país há mais de 18 anos. "Na minha experiência, médicos estrangeiros são gente motivada, disposta a aprender e encarar os desafios de trabalhar no sistema sanitário de um outro país."

"A infraestrutura de saúde alemã é consideravelmente mais bem financiada do que a de muitos outros países, inclusive o Kosovo, meu país natal. Para um profissional da medicina, isso significa trabalhar com ferramentas mais avançadas e se beneficiar do desenvolvimento profissional de alta qualidade."

Ele frisa que "muitas vezes dos médicos estrangeiros têm que trabalhar em salas de emergência ou em hospitais, onde a carga de trabalho é mais alta, em comparação". No entanto, isso vale a pena, graças a um bom equilíbrio trabalho-vida: "Você ganha bastante e tem tempo suficiente para aproveitar a vida."

Beqa reconhece que, devido à falta do devido apoio estrutural, os estrangeiros precisam empregar mais esforço no desenvolvimento da própria carreira do que seus pares alemães. Por exemplo: estabelecer a própria clínica ou consultório em geral leva bem mais tempo, sobretudo devido a uma lacuna na lei alemã.

"A Alemanha só reconhece o treinamento médico básico, portanto se um especialista quer praticar aqui, ele precisa passar novamente pelo treinamento específico", o que acarreta investir ainda mais anos nos estudos.

Quão séria é a barreira de língua para os médicos estrangeiros?

Hoffart, da Associação Médica da Renânia-Palatinado, relata reclamações esparsas de pacientes que dizem não ter podido entender totalmente seus clínicos estrangeiros.

"Vez por outra eu recebo telefonemas de pacientes com a pergunta: 'Pode me indicar um hospital onde os médicos falem alemão direito?" E por vezes a crítica é justificada: "Tenho repetidamente recebido relatórios médicos muito difíceis de entender, pelo menos em parte", conta Hoffart.

Apesar de os médicos estrangeiros terem que fazer testes de idioma durante o processo de aprovação, estes se concentram no alemão padrão, mas não ajudam a entender dialetos e sotaques locais. Um estudo de 2016 da Universidade Ludwig Maximilian, de Munique, registrou que um grande número de médicos estrangeiros se debatia com problemas do idioma alemão e uma falta de conhecimento da cultura e do sistema clínico nacional.

Outro estudo, de 2022, da Universidade de Basileia, em dois grandes hospitais universitários da Alemanha, constatou que grande parte dos profissionais, incluindo enfermeiros e clínicos, sofria discriminação relacionada ao idioma, nacionalidade, raça e etnicidade.

Por sua vez, o kosovar Beqa diz não ter observado nenhum problema na integração dos médicos ou com sua capacidade de aprender alemão: "Na minha experiência, a maioria pega o idioma bem rápido. Além disso, mesmo que você fale bem alemão, sempre há pacientes que não falam. Então a barreira de língua não é só um problema para os médicos."

Para Jürgen Hoffart, um modo de resolver os problemas seria mais médicos estabelecidos da Alemanha se ocuparem de seus colegas do exterior e lhes passarem as especificidades do sistema nacional. "Se necessário, eles podem fazer cursos adicionais de idioma e comunicação", sugere o diretor geral.